terça-feira, 23 de julho de 2013

Sargento Teixeira, o destino de um herói. ( José Brito da Silva Júnior )

     
 Como todo bom herói de guerra, o sargento Teixeira foi agraciado com inúmeras medalhas de honra pelo bom serviço prestado a pátria. Quem não lembra de sua participação nos conflitos da Venezuela? Poucos são os que não se lembram do seu excelente desempenho em libertar do cativeiro o nosso presidente. E ele merece uma salva de palmas, por que o presidente esta de volta em sua casa, o Brasil arrasou de vez com a Venezuela e o bom sargento agora é um dos mais honrados e estimados residentes do Hospício Boa Esperança. E ele esta morando nessa casa de loucos por que poucos viram o que ele viu em meio a guerra.

Não havia ninguém por perto quando aquelas crianças metralhadas se levantaram novamente apenas para cair sob o peso de artilharia pesada. Ninguém pode falar sobre as coisas que rastejavam no mato enquanto o assustado herói de guerra se escondia em uma choupana simples. Eles não ouviram os tambores e os gritos em línguas desaparecidas há muito da face da terra. Não conversou com a carne macilenta e parcialmente devorada, que subia desajeitada tentando sair da sua prisão em um poço esquecido, ela queria sua mãe. Não viu seus amigos serem massacrados por soldados que deveriam estar mortos! E não podem testemunhar as imagens bizarras e cenários apocalípticos que inundam os pesadelos mais terríveis do Teixeira. O barulho dos tiros, o fedor de carne queimada e a decomposição que se recusava a desaparecer. Nem mesmo os seus gritos podem mais ser ouvidos.

E o que mais assustava o pobre sargento em noites solitárias era algo que ele julgou ter visto de relance, antes de desmaiar no meio do mato. A silhueta confusa contra um sol no horizonte. Uma massa megalítica, talvez a maior manifestação da loucura a caminhar sobre a face da terra. E havia o olhar frio que congelava incontáveis almas que tocava. E havia uma confusão de tentáculos.  Talvez a criatura fosse maior que a maior montanha da terra. A visão, mesmo rápida do horror, lhe arrancou todo o vigor e lhe levou a uma febre intensa que durou dois meses. Os fãs do nosso heroi fizeram por bem rasgar da memoria esse triste incidente que traria Teixeira de volta para casa, dizendo absurdos e chorando como uma garotinha. Entretanto quem voltou não foi o mesmo cidadão que saiu em defesa do seu pais, esse moço morreu na Venezuela e tudo que restou foi uma carcaça nervosa e assustada que jaz esquecida em um quarto abandonado.

O que sobrevive a gloria não é a pessoa e sim uma idealização de pessoa. O herói é uma fantasia criada para tudo que não podemos fazer ou ser e não importa os defeitos do herói, não importa nem mesmo onde diabos ele foi parar depois da guerra. Para as pessoas, um retrato autografado na parede vale mais que a vida do próprio ídolo, e dae que morra! Afinal, quando ele morrer vai ficar mais valioso o objeto e posso ganhar um bom dinheiro. Acho inclusive que os enfermeiros da bondosa instituição de saúde mental, possuíam uma foto do Sargento em suas casas. Tanto que até mesmo esqueciam que deviam alimentar ele.

É por isso que só descobriram os restos decompostos do herói apenas a um mês atras. Precisavam do quarto para um novo interno, uma outra estrela. Esse matou os pais, as irmãs e fez sexo com o cachorro. Após retirarem os restos pendurados em uma corda improvisada com lençóis, o poderoso Sargento Teixeira, ou o que restou dele, foi esquecido em uma caixa, empilhada no canto de uma sala escura e poeirenta onde eles costumam guardar o que não é necessário, mas, ninguém sabe o que fazer com isso.

        E a alma do nosso nobre herói, poderia estar agora em valhala? Não, segundo uma médium que por acaso foi visitar a filha no mesmo corredor onde vivia o finado personagem. Segundo ela, existe um militar que ocupa o mesmo quarto do maniaco da machadinha, e tudo o que ele pede, com lagrimas nos olhos, é que alguém traga, por favor o seu almoço pois ele esta morrendo de fome.

Um comentário:

  1. Sugestão de matéria sobre o retorno da HQ DYLAN DOG em 2017 ao Brasil, vencedora de 2 hq mix de melhor revista de terror, e que inspirou o fraquinho filme Dylan Dog e as criaturas da Noite. Mas a hq é terror nota 10.

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